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Investir em resultados, não em ideias

Em vez de aplicar o dinheiro público no desenvolvimento de ideias que provavelmente nunca darão em nada, propõe-se usar esse dinheiro para financiar empresas dispostas e comprarem produtos desenvolvidos pelas startups tecnológicas. Essa é a melhor forma de tornar as jovens empresas inovadoras atrativas para os investidores, potenciando assim o seu sucesso.

As startups tecnológicas portuguesas têm ganho cada vez mais protagonismo, em Portugal e no estrangeiro. Têm ideias inovadoras, boas equipas e ambição de se tornarem globais. Falta-lhes muitas vezes o acesso ao capital dos investidores e a experiência de vender lá fora.

Por outro lado, com o Portugal 2020, estamos a entrar num novo ciclo de investimentos participados pelos fundos europeus. Já no QREN houve muitos milhões de euros aplicados em inovação e desenvolvimento. A maioria desses projetos financiados pouco ou mesmo nada trouxeram em termos de inovação real. Isto porque para sermos rigorosos, só podemos falar em inovação quando o mercado reconhece o mérito de uma nova ideia e está disposto a pagar por ela.

Os programas europeus não foram concebidos para financiar startups. Estas têm que provar o seu mérito a investidores de capitais de risco, fundos de investimento e business angels. São estes que, quando convencidos, investem nas startups o seu dinheiro, definindo objetivos no tempo que têm que ser cumpridos. Algumas tem sido bem sucedidas, mas a maioria nem por isso.

Há certamente várias razões para isso. Mas provavelmente a mais forte tem a ver com a dificuldade que as startups têm de provar que o mercado reconhece o mérito das suas ideias. Conseguir realizar os primeiros pilotos, angariar os primeiros clientes e apresentar provas dos resultados são uma grande barreira para o sucesso. Quem o consegue, terá certamente muito mais facilidade em conseguir a atenção dos financiadores.

Sendo assim, o que proponho é uma alteração ao modelo atual. Em vez de aplicar o dinheiro público no desenvolvimento de ideias que provavelmente nunca darão em nada, aplicar esse dinheiro, ou parte dele, na realização de pilotos de produtos já desenvolvidos. Ou seja, financiar empresas e outras organizações públicas e privadas que estejam interessadas em testar as ideias desenvolvidas pelas startups tecnológicas. Por outras palavras, os fundos públicos iriam financiar a compra de soluções às startups para a realização de pilotos.

Desta forma, iríamos conseguir atingir vários objetivos.

Teríamos um modelo inovador de apoio a startups, não para desenvolvimento de produtos, mas sim para o teste no mercado dos produtos já desenvolvidos. Essa prova de mercado equivaleria a uma redução do risco, tornando as startups muito mais atrativas para os investidores e aumentando assim a probabilidade do seu sucesso.

Estaríamos também a incentivar diretamente as empresas a adoptarem novas ideias e tecnologias, o que contribuiria para as tornar mais modernas, mais inovadoras, mais produtivas e mais competitivas.

Iríamos incentivar empreendedores de outros países a instalarem-se em Portugal para lançarem startups inovadoras, gerando assim mais emprego e mais riqueza.

Por fim, conseguiríamos atrair muito melhor o interesse dos investidores internacionais para as nossas startups.