Elon, uma criança diferente
Quem o conheceu na infância sabe que sempre foi um rapaz peculiar. Um pequeno prodígio, já com grandes ideias, embora tímido e cabisbaixo. Desde cedo um entusiasta da ficção científica e dos computadores, sempre com um livro debaixo do braço. É desta forma que muitos se recordam dele no passado. “Elon fechava-se dentro da sua mente e percebia-se que estava noutro mundo. Ainda hoje faz isso” relembra a mãe – Maye Musk – no recente livro que relata a vida do empreendedor. E hoje, é fácil perceber que uma mente tão ousada só poderia ter nascido de uma criança tão fora do comum.
Mas a infância de Elon não foi fácil. Nasceu na África do Sul em 1971, na era do Apartheid. Desde cedo, foi atormentado pelos seus colegas e não era incomum sair da escola com um olho negro ou o nariz partido. Em casa, a situação não era melhor. O pai de Elon, autoritário e emocionalmente abusivo, obrigava os filhos a estudar por horas a fio, sem que se pudessem sequer mover ou falar. A violência física e psicológica fez parte da vida de Elon até à adolescência, mas isso não o inibiu: sempre foi um rapaz de grandes sonhos e opiniões firmes acerca do mundo que o rodeava. Não é por acaso que vendeu a sua primeira invenção – um videojogo que ele mesmo programou – com apenas 11 anos.
Em busca de um sonho na América
Aos 17 anos, partiu para o Canadá onde concluiu duas licenciaturas simultaneamente – em Física e Economia. Seguiu para os E.U.A e foi aceite num doutoramento em Física Aplicada na Universidade de Stanford. Bastaram apenas 2 dias para Elon desistir e seguir o seu sonho de conquistar o mundo da internet. Aos 23 anos, ele e o irmão fundaram a Zip2, algo parecido com umas páginas amarelas digitais que criava um diretório navegável de empresas com mapas. Mesmo quando ninguém quis comprar o serviço, Elon não desistiu. O seu esforço compensou quando a empresa foi comprada pela Compaq/Alta Vista/CMGi em 1999 por 307 milhões de dólares.
Por esta altura, Elon era um milionário em Silicon Valley, o sonho de muitos com a sua idade. Mas o sonho dele era outro: queria mudar o mundo – como poderia parar por ali? Pouco tempo depois, investiu 12 milhões de dólares da sua fortuna pessoal para criar a X.com, uma startup de serviços financeiros. Hoje é melhor conhecida como Paypal, empresa com a qual se fundiu mais tarde. Quando o Ebay comprou a Paypal, Musk recebeu uma generosa quantia de 250 milhões de dólares. Com esta fortuna, Elon já tinha fundos suficientes para seguir um dos seus maiores sonhos. E foi assim que decidiu aventurar-se nas estrelas – literalmente.
O sonho: salvar a vida na Terra e partir para outro planeta
Engana-se quem pensa que ele anda com a cabeça na lua – Elon Musk vive com a cabeça em Marte. Em 2001, viajou até à Rússia para comprar um foguetão. Mas os russos olharam-no com desdém e voltou para a América de mãos vazias. Eis que teve uma epifania: construir o seu próprio foguetão por uma fracção do preço das outras empresas. Se em criança passou dias de cabeça enfiada em bandas desenhadas, desta vez, passou meses rodeado de dezenas de livros de engenharia espacial para tentar perceber a fundo uma indústria na qual não tinha qualquer experiência. Num velho armazém, Elon reuniu ex-talentos da NASA, United Launch Alliance (o seu atual rival) e outras empresas para começar a sua startup de tecnologia de exploração espacial – a SpaceX.
Musk assegura que até 2024 será enviada a sua primeira missão tripulada até Marte – embora a tripulação só chegue ao planeta um ano depois, dada a distância que o separa da Terra. Porém, Elon não criou a SpaceX apenas para se aventurar no espaço. “Se quisesse ir à estação espacial poderia simplesmente comprar um bilhete. A SpaceX foi criada para expandir a vida além da Terra.” – explica: “Uma missão a Marte não altera fundamentalmente o futuro da humanidade. O objetivo é criar lá uma colónia auto-sustentável.”
Mas Elon não tem apenas sonhos além-fronteiras, também quer salvar o nosso planeta. Contrariar o aquecimento global e impulsionar as energias renováveis tem sido uma meta a longo prazo para o empreendedor.
Por isso, quando a Tesla Motors precisou de um grande investidor para construir o seu primeiro veículo elétrico, apenas um nome lhes passou pela cabeça: Elon Musk. Com um investimento de 6.5 milhões de dólares, Musk tornou-se no maior investidor da Tesla e CEO da empresa. Juntamente com os primos, também criou a SolarCity, que é hoje a maior fornecedora de painéis solares nos E.U.A.
Um olhar sobre a família Musk
Elon conheceu Justine, uma jovem aspirante a escritora, na universidade. Determinado e persistente, impôs como missão pessoal conquistá-la. Acabou por ser bem-sucedido e casaram em 2000, mas a lua-de-mel esteve longe de ser tranquila: Elon teve uma experiência de quase-morte quando voltou do Brasil com malária. Sobre o sucedido, comentou: “Esta é a minha lição por ter ido de férias: as férias são fatais.”
Na altura em que o casal teve o seu primeiro filho em 2002, também sofreu o maior desgosto das suas vidas quando Nevada faleceu tragicamente de síndrome de morte súbita com apenas 10 semanas. Elon sofreu em silêncio e refugiou-se no seu trabalho, dedicando-se a 100% às suas empresas. No entanto, Elon e Justine acabaram por ter mais 5 filhos, todos eles rapazes.
Revoltado contra o sistema de ensino tradicional, Musk até criou a sua própria escola para os filhos que pretende desconstruir os métodos escolares atuais. Nesta escola não há avaliações ou turmas, e os alunos aprendem de acordo com as suas capacidades e interesses – uma abordagem inédita mas previsível para alguém como Elon Musk.
Empenhado em ser o pai que nunca teve, dedica muito tempo aos filhos. Mas às vezes incomoda-o que nunca tenham sofrido como ele: Elon acredita que foi isso que lhe deu a força e determinação para vencer na vida.
O verdadeiro Homem de Ferro
Não foi por acaso que Elon Musk serviu de inspiração para Robert Downey Jr, ator que personifica o Homem de Ferro no grande ecrã. Quando a crise rompeu em 2008, tudo parecia ir de mal a pior para o magnata: a Tesla Motors dificilmente sobrevivia com o pouco dinheiro que lhe sobrava. A SpaceX incorria em enormes gastos enquanto se preparava para lançar o seu primeiro foguetão. E o azar de Elon não acabava por aí pois ainda se viu no meio de um processo de divórcio.
Para salvar a pele de ambas as empresas, Musk entrou em modo “super-herói” e tomou medidas extremas: fez cortes drásticos nos custos e até vendeu os seus bens pessoais para investir tudo o que tinha. Por esta altura, Elon trabalhava 100 horas por semana e impôs este ritmo alucinante a todos os seus funcionários, fazendo-os dormir em cima das secretárias quando a exaustão se instalava.
Elon pode ser exigente e intimidante, mas também mostra ser um verdadeiro líder: escreveu uma carta pessoal a cada funcionário da Tesla a agradecer o seu notável trabalho, explicando como poderia melhorar no futuro. Dolly Singh, ex-funcionária da SpaceX, também afirmou: “Acho que a maioria de nós o teria seguido até às portas do inferno de óleo bronzeador na mão” – recordando as suas incríveis capacidades de liderança durante a crise.
A SpaceX falhou consecutivamente todas as tentativas de lançamento do seu primeiro foguetão. Questionando-o se alguma vez pensou em desistir, Elon respondeu numa entrevista: “Nunca. Porque eu nunca desisto. Teria de estar morto ou completamente incapacitado para isso”. E 6 anos depois, foi possível concretizar este milagre da ciência moderna quando, pela primeira vez, o lançamento do Falcon 1 foi um sucesso.
Hoje, a Tesla é uma das marcas de carros mais valiosas do mundo. E a SpaceX continua a testar os limites da tecnologia aero-espacial. Apesar de ter arriscado tudo, Elon tem agora uma fortuna avaliada em 10 biliões de dólares – mas o dinheiro nunca foi a sua meta. Desde criança, sempre quis criar um impacto positivo no mundo. E é inegável o quão relevante tem sido a sua pegada até agora.
Uma visão ambiciosa para o futuro
A Tesla quer acelerar a saída da humanidade dos combustíveis fósseis. O novo plano a 10 anos da empresa parece ambicioso mas Musk garante que é possível: painéis solares nos tetos dos carros, viajar em piloto-automático enquanto lemos um livro e fazer dinheiro enquanto não utilizamos o carro ao torná-lo numa espécie de táxi automático – são tudo ideias que Musk pretende pôr em prática.
Com a futura abertura da Gigafactory – a monstruosa fábrica com um tamanho equivalente a 95 campos de futebol – a Tesla já não quer ser só uma fábrica de carros. É aqui que vai fabricar as suas próprias baterias elétricas movidas a energia solar e a compra da SolarCity este ano foi o primeiro passo para a concretização deste plano.
Mas quem pensou que as invenções de Musk acabavam por aqui, que se prepare. Elon quer revolucionar o espaço e tornar o turismo espacial uma realidade. Quer revolucionar os transportes, ao criar um shuttle de alta-velocidade, capaz de viajar a 1300 km/h. Quer revolucionar a Internet, trazendo wi-fi aos pontos mais remotos do planeta. Quer revolucionar os carros e fazer com que todos se abasteçam apenas com o poder da eletricidade.
Elon Musk quer revolucionar o mundo. Se é apenas um sonhador utópico de ideias excêntricas ou um génio que irá mudar o percurso da humanidade, o tempo dirá.
Mas uma coisa é certa: ainda vamos ouvir falar muito de Elon Musk.