A eternidade sempre fascinou o homem. Da fonte da juventude à criopreservação do corpo e cérebro, tanto a realidade como a fantasia se ocupam com o prolongamento da vida humana. Mas e se já for possível ser imortal através de inteligência artificial?
De facto, já pode manter a sua presença viva neste mundo após morrer. Isto é possível com a rede social ETER9 (lida “eternine”), criada pelo português Henrique Jorge, de 50 anos, que faz uso de sistemas (e consequente desenvolvimento) de inteligência artificial (IA). A novidade já circula internacionalmente, colocando publicações estrangeiras a falar do caso.
A ideia e o projeto de Henrique Jorge surgiram em 2009, na tentativa de recriar a presença do pai, já falecido, no mundo. Para isso, fez uso das possibilidades trazidas no virtual e desenvolveu um programa de IA que consegue reproduzir ações como um utilizador na rede social.
Na versão da rede hoje utilizada por 60 mil pessoas, lançada em 2015, a máquina absorve e aprende com cada publicação e interação que o utilizador ali faz. Quanto mais ações a pessoa realizar, mais rigoroso será o desempenho da contraparte (ou segunda metade, segundo o criador) que, quando o utilizador fica offline, continua o “trabalho” por ele na rede.
Ao jornal Observador, Henrique Jorge diz sobre Eter9 que “Eu agora estou aqui, não estou ligado à rede, mas tenho na plataforma a minha segunda metade digital, que está a fazer algo por mim, com alguma influência minha devido ao meu perfil, mas está a fazer algo sozinha. O mais bonito é eu chegar ao final do dia e ir ver o que ela fez por mim e ensiná-la um pouco, porque se eu a corrigir ela aprende. O projeto está muito embrionário, mas a ideia é que seja o meu doppelganger (um sósia)”.
Na prática, isto reflete-se em publicações geradas também pelas contrapartes. O sistema de inteligência artificial terá apreendido, analisado e transformado a informação necessária para conseguir reproduzir fielmente a ação do utilizador. A publicação feita pela IA será tão convincente que ninguém desconfiará que não está ninguém (humano) do outro lado.
Curiosamente, a série Black Mirror da plataforma Netflix dedica um episódio à exploração desta ideia (“Be Right Back“), contando como uma mulher que perdeu o marido decide dar uma hipótese a uma tecnologia que, apreendendo todas as interações da pessoa nas redes sociais, recria com incrível semelhança um avatar seu e que permite manter o contacto. Afinal, parece que “Nós, humanos, pensamos todos de uma forma muito semelhante, é verdade”, diz Henrique Jorge ao Observador.
Parece assustador? Na verdade, deixou-nos bastante surpreendidos com a capacidade que os sistemas de inteligência artificial têm para aprender e reproduzir ações. O projeto continua em desenvolvimento, sendo ainda uma versão beta, e é aperfeiçoado à medida do seu crescimento. Henrique Jorge trabalha agora com mais investidores e planeia, para 2020, ter 10 milhões de utilizadores nesta rede social vinda do futuro.