Como empresário e empreendedor, sinto que muitas vezes se confunde e misturam coisas tão distintas como internacionalizar e exportar. Estão em causa duas situações naturalmente diferentes.
Diria até que não têm (quase) nada a ver uma com a outra, exceção feita ao facto de ambas nos remeterem para algo… no estrangeiro.
Comecemos por pegar no exemplo das Startups, tema tão em voga nos nossos dias, que não têm qualquer viabilidade se estiverem a contar única e exclusivamente com o mercado nacional. Precisam, portanto, de se internacionalizar, de estar presentes noutros mercados.
Estas jovens empresas são incentivadas, desde muito cedo, a alargar horizontes com o fim de se conseguirem expandir para os mercados (maduros) europeus.
Mas não só, há também a tendência de se tentar a sorte no mercado norte-americano, tão prolífero no apoio a estas empresas/negócios.
Quando as empresas conseguem (finalmente) obter investimentos de fundos estrangeiros, são, regra geral, obrigadas a mudar a sua sede para o exterior.
Isto obriga a que deixem em Portugal – por razões que se prendem quase na totalidade com custos operacionais – as suas estruturas de desenvolvimento. Não esquecendo que passam a pagar impostos… lá fora (mas a isso já lá vamos).
Por muito que nos custe, é a única forma que estas empresas têm de conseguir assegurar algum crescimento. Como bem sabem, é a própria dimensão do nosso mercado que assim o exige, sobretudo para quem quer apostar na especialização numa determinada área.
O Portugal 2020 prevê um forte investimento na Internacionalização das empresas portuguesas, na ordem de muitos milhões de euros. No entanto, é preciso perceber que quando uma empresa se internacionaliza, o mínimo que precisa é de um local para trabalhar e de contratar, localmente, profissionais que conheçam o mercado de destino.
São precisamente esses tipos de apoios que não são financiados.
Porquê? Simples. Então vejamos:
Se uma empresa portuguesa apostasse em entrar na Alemanha e, por esse simples facto, fosse apoiada para contratar um trabalhador alemão, iria ficar em situação de clara vantagem face à concorrência das empresas locais. Essa é a explicação dada pela Comissão Europeia, que se recusa a financiar e estimular a concorrência desleal.
Mas proponho que façamos ainda outro exercício: Então e se a mesma empresa portuguesa apostasse, por exemplo, no Perú ou nos Estados Unidos?
Nesse caso, parece-lhe razoável que se mantivessem as restrições e os apoios à contratação de trabalhadores locais ou para, simplesmente, arrendar um escritório?
Eis que chegamos então ao verdadeiro problema: o apoio é dado à Exportação e não à Internacionalização.
É por isso que as ações de prospeção, os estudos e as participações em feiras são financiados.
O espaço para melhorias é imenso, deixo alguns exemplos concretos de medidas que poderiam ser tomadas a fim de apoiar de facto a Internacionalização de empresas portuguesas:
- Apoiar a instalação e o estabelecimento das empresas portuguesas no estrangeiro (escritório e contratação de um ou dois recursos locais);
- Reforçar os apoios às acções de marketing e de promoção no mercado-alvo;
- Para além de incentivar e subsidiar a participação em feiras, deve existir um apoio a eventos organizados pela própria empresa no país de destino;
- Apoiar a instalação de sucursais e de joint-ventures noutros mercados, desde que detidas maioritariamente por empresas nacionais e que, eventualmente, consolidem contas em Portugal;
- Dividendos de sucursais no estrangeiro que sejam canalizados para Portugal, assim como as mais valias obtidas com a venda de participações em Startups, devem ter regimes fiscais favoráveis (capazes de competir com os regimes especiais praticados no Luxemburgo e na Holanda, por exemplo).
Estas são as preocupações naturais e sugestões de um empresário que não se identifica com um modelo que parece estar unicamente preocupado nos ganhos do Estado a curto prazo, seja com impostos, taxas ou obrigações, que fazem com que as empresas sintam necessidade de mudar de ares e de levar as ideias, e a sua possível rentabilidade, para outras paragens.
No modelo em que acredito e proponho, as empresas e o país têm muito a ganhar com uma legislação que se centre nas empresas e nas suas reais necessidades.
Ou agimos ou ficamos todos a perder. E muito.
IMPRENSA