A ideia à partida faz tremer qualquer gestor ou chefe de equipa. Gerir perfis diferentes dentro de uma equipa é um desafio que traz dificuldades, conflitos e questões. Mas é também o segredo para o crescimento e resultados excecionais.
Há uns anos cruzei-me com o conceito curioso de “Herding Cats” (ou pastorear gatos) a partir de um anúncio publicitário de uma empresa que geria uma série de matérias diferentes e, aparentemente, inconciliáveis.
Porque a ideia de pastorear gado é tranquila, mas já alguém pensou no desafio de o fazer com gatos? Todos com personalidades vincadas e distintas, que não acatam ordens e que dispersam para qualquer lado, são um rebanho difícil. E quem conseguir concretizar essa tarefa hercúlea tem um verdadeiro dom.
Passa-se o mesmo nas nossas equipas, onde os perfis técnicos podem ser semelhantes mas as personalidades nunca o serão totalmente. E nem convém que assim seja, porque a equipa só tem a ganhar com a variedade trazida por cada elemento.
O mito das almas gémeas
Enquanto team leaders ou gestores, queremos construir uma equipa o mais coesa possível, onde aproveitamos ao máximo as capacidades, talentos e conhecimentos dos nossos colegas. Queremos mostrar ótimos resultados, mantendo a equipa próxima, num espírito de entreajuda e colaboração.
Numa primeira experiência podemos correr o risco de achar que isso só é possível se todos os elementos da equipa forem iguais, a nível de personalidade, gostos e métodos de trabalho. Mas de que forma pode haver trocas de conhecimentos e pontos de vista se os colaboradores são tão parecidos? O que podem, realmente, uns acrescentar que outros não saibam já?
É natural que queiramos fomentar o melhor ambiente de trabalho possível, encontrando pessoas com personalidades semelhantes (e que aprovamos) para compor a equipa. No entanto, a médio prazo percebemos que isso não traz a riqueza de conhecimentos, o confronto de ideias e os resultados inovadores que procurávamos inicialmente. Para isso é preciso que os elementos da equipa sejam diferentes, tenham experiências de vida diferentes, visões e opiniões diferentes, conhecimentos e competências diferentes, no fundo que se complementem.
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Se à primeira vista ter pessoas tão diferentes numa equipa parece uma dor de cabeça, devem mudar os óculos com que olham para este desafio.
De que forma esperamos aprender se trazemos perspetivas, pontos de vista, métodos de trabalho e organização sempre iguais? Numa discussão não há, realmente, novidade. Pode haver um ou outro novo detalhe, mas nada que traga de facto mudança ou disrupção.
É na diferença e no choque que reside o crescimento, a evolução da equipa e os resultados mais inovadores no trabalho. Por isso, abandonem a zona de conforto e procurem acrescentar perfis diferentes `às vossas equipas. Ao mesmo tempo, este desafio traz também crescimento à própria chefia: pode ser difícil gerir tanta diferença e lidar com o conflito que surge do individualismo.
Nesses momentos, mais que nunca, é importante recordar que se colabora para o mesmo propósito, mas esta mensagem deve ser reforçada individualmente, tendo em conta as particularidades de cada colaborador. Assim, mais facilmente se explica o propósito e a mais valia de cada elemento numa equipa, trabalhando para a coesão.
Devemos procurar perfis diferentes, a nível comportamental, para a organização. Só assim conseguimos complementar conhecimentos, ideias, projetos, iniciativas, ver o que antes não víamos. Uma equipa com perfis variados cresce junta.
Não queremos almas gémeas, porque aí reside a previsibilidade e a estagnação. Queremos antes um “bando de gatos”, cada um com a sua personalidade, forma de estar e de trabalhar. Será o grupo mais desafiante e também aquele com maior potencial.