À medida que nos aproximamos do ano de 2024, é crucial estar atento às tendências tecnológicas que irão moldar o cenário empresarial e influenciar a forma como conduzimos os nossos negócios.
A Gartner e outros players têm feito recentemente algumas predições algo audazes para o mundo tecnológico em 2024 – desde a IA generativa democratizada, à priorização das plataformas de Cloud, ao desenvolvimento com auxílio de IA, à tecnologia sustentável, etc.
“As disrupções tecnológicas e incertezas socioeconómicas requerem uma proatividade em agir de forma audaz e estrategicamente aumentar a resiliência nas respostas ad-hoc”, comenta Bart Willemsen, vice-presidente e analista na Gartner, num relatório recente. “Os líderes em IT estão numa posição única para construir estrategicamente um ‘roadmap’ onde os investimentos na área da tecnologia ajudam a sustentabilidade do negócio, no meio de tantas inseguranças e pressões no mercado”.
Gastos mundiais com TI a chegar aos 5,14 biliões de dólares
Prevê-se que em 2024, se gastem cerca de 5,14 biliões (trillions, em inglês), um crescimento dos 4,72 biliões estimados para este ano de 2023, traduzindo-se num aumento anual de quase 4 por cento. Os mercados tecnológicos que se prevê que rendam mais faturação são os serviços, software e serviços de comunicações.
Chris Howard, da Gartner, partilha que os executivos devem avaliar os impactos e benefícios das tendências tecnológicas estratégicas no próximo ano:
“A IA (generativa e de outros tipos) oferece novas oportunidades e lidera várias tendências. Mas retirar valor palpável do uso duradouro da IA requer um approach disciplinado à adopção generalizada da tecnologia, combinado com uma especial atenção aos riscos.”
Chris Howard, vice-presidente e analista na Gartner
Automatização no dia-a-dia com a ajuda da IA Generativa
- Conforme a IA generativa se torna cada vez mais integrada nas nossas aplicações no dia-a-dia, desde motores de pesquisa a software de escritório, pacotes de design e ferramentas de comunicação, os utilizadores começam a finalmente aceitar o seu potencial;
- A IA generativa funciona como um assistente pessoal super inteligente, melhorando a eficiência, a produtividade e rapidez. Ao confiarmos nela para desempenhar tarefas rotineiras como recolha de informação, agendamentos, gestão de compliance e estruturação de projetos, os utilizadores têm assim mais tempo para tirar partido das suas skills únicas e insubstituíveis;
- Esta mudança de realidade permite mais criatividade, explorar novas ideias, pensamento original e conexões humanas relevantes e com valor. Com os desafios no que toca à ética e regulamentação ainda por resolver, 2024 será o ano em que o impacto transformativo da IA generativa se tornará evidente para todos.
IA Generativa democratizada
A IA generativa está a tornar-se democratizada pela convergência de modelos massivamente pré-treinados, cloud computing e open-source, fazendo com que estes modelos fiquem disponíveis a profissionais em todo o mundo.
Até 2026, prevê-se que mais de 80% das empresas tenham APIs e modelos com IA generativa, e/ou tenham implementado aplicações compatíveis com IA generativa em ambientes de produção, comparando com menos de 5% em 2023.
As aplicações em IA generativa podem tornar vastas fontes de informação — internas e externas — acessíveis e disponíveis para utilizadores profissionais. Isto significa que a rápida adopção da IA generativa irá democratizar significativamente o conhecimento e as capacidades dentro das empresas. “Grandes modelos de linguagem permitem às empresas conectar-se com os seus colaboradores com conhecimentos num estilo conversacional com uma forte compreensão semântica”, comenta a equipa da Gartner.
AI Trust, Gestão do Risco e Segurança
Até 2026, prevê-se que empresas que apliquem controlos de AI Trust, Risco e Segurança irão aumentar a precisão da sua tomada de decisões, ao eliminar até 80% da informação com falhas e menos fidedigna.
A democratização do acesso à Inteligência Artificial tornou a necessidade pela Gestão de AI Trust, Risco e Segurança ainda mais urgente e clara. Sem proteções, acredita-se que os modelos de IA podem rapidamente dar aso a efeitos negativos que podem sair fora de controlo, sobrepondo-se a quaisquer ganhos de performance e na sociedade que a IA eventualmente permita.
A Gestão de AI Trust, Risco e Segurança permite ferramentas para ModelOps, proteção proativa de dados, segurança específica de IA, monitorização de modelos — incluindo monitorização de data drift ou resultados imprevistos — bem como controlo de riscos de inputs e outputs para modelos e aplicações a terceiros.
Desenvolvimento ‘AI-Augmented’
A Gartner define o desenvolvimento ‘AI-augmented’ como o uso de tecnologias IA como a IA generativa e Machine Learning, para auxiliar os engenheiros de software no desenho, coding e testing de aplicações.
A engenharia de software com o auxílio da IA melhora a produtividade dos developers e permite às equipas de desenvolvimento responder à crescente procura por software no mercado.
“Estas ferramentas de desenvolvimento embutidas de IA permitem aos engenheiros de software passar menos tempo a escrever código, para que se possam dedicar mais a atividades estratégicas como o design e a composição de aplicações apelativas”, comenta Gartner.
Desenvolvimento ciber-resiliente
A ciber-resiliência vai tornar-se uma das tendências tecnológicas proeminentes em tecnologias de negócio e de consumidor ao longo do ano de 2024.
- O foco estende-se para além da cibersegurança para incluir medidas de recuperação e continuidade de negócio, face a circunstâncias imprevistas. Procedimentos de trabalho remoto asseguram a funcionalidade do negócio quando localizações físicas se encontrem inacessíveis.
- A automatização de ciber-defesa através da Inteligência Artificial e do Machine Learning, frameworks integradas que fundem medidas de segurança com protocolos de continuidade, e a a consciência da engenharia social e uma estratégia proativa de RP contribuem para uma estratégia complexa e compreensiva de ciber-resiliência.
Conforme as ciber-ameaças se tornam cada vez mais sofisticadas, a competição para desenvolver novas soluções que incorporem tecnologias inovadoras como a IA só se intensificam.
Computação Quântica
2024 marca a transição da computação quântica de “buzz” para benefícios tangíveis.
- Os computadores quânticos retiram propriedades únicas da física quântica, como o entrelaçamento quântico (quantum entanglement) e superposição, para realizar vastos cálculos simultaneamente.
- Quantum bits (qubits) podem existir em vários estados, permitindo computações complexas que vão para além das limitações dos computadores tradicionais.
- Os primeiros adoptantes (early adopters) da tecnologia quântica incluem bancos e organizações de serviços financeiros que procuram melhorar sistemas IA para a detecção de fraudes, gestão do risco e negociação de alta frequência.
Tecnologia biométrica
De acordo com um inquérito recente a especialistas de segurança, 72 por cento das empresas pretendem transitar do uso de passwords tradicionais até 2025.
Isto resultará no desenvolvimento de novos serviços de autorização para o reconhecimento facial, de voz, íris, mãos, e assinaturas.
Em 2024, a computação quântica irá encontrar aplicações em campos em que a computação é particularmente importante, como a descoberta de medicamentos, sequenciamento de genoma, criptografia, meteorologia, ciência de materiais, optimização de sistemas complexos e busca por vida extraterrestre.
Plataformas de Cloud
Até 2027, a Gartner prevê que mais de 70 por cento das empresas irão utilizar plataformas de cloud nas suas indústrias para acelerar as suas iniciativas empresariais, uma subida enorme comparando com os 15% em 2023.
Estas plataformas Cloud abordam resultados relevantes para o negócio ao combinar serviços SaaS, PaaS e IaaS subjacentes numa única oferta de produto com capacidades compostas. “Estas normalmente incluem uma estrutura de dados do setor, uma biblioteca de pacotes de recursos de negócios, ferramentas de composição e outras inovações da plataforma”.
Assim sendo, as plataformas cloud industriais são propostas personalizadas de cloud, específicas para uma indústria em particular, e que podem ser ainda mais customizadas para as necessidades do cliente.
Convergência “figital”
O real e o digital estão a tornar-se cada vez mais interligados e inseparáveis. Tecnologias como a realidade aumentada (AR), realidade virtual (VR) e a internet imersiva estão a quebrar barreiras entre o mundo físico e os domínios digitais onde passamos cada vez mais do nosso tempo.
Mais do que nunca, existimos como avatars digitais dentro de ambientes virtuais. Isto aplica-se na vida profissional, onde colaboramos remotamente através de plataformas como o Zoom, Teams ou Slack; e na vida pessoal e recreativa, onde o online gaming e os esports são mais populares que nunca. Usamos apps sociais como o TikTok e Instagram para criar espaços virtuais onde partilhamos momentos da nossa vida “real” – cuidadosamente curada e filtrada para criar personalidades digitais que se tornam os nossos “eus” virtuais.
Em diversas indústrias, vemos este conceito emergir no formato de “gémeo digital” – uma representação virtual de um objeto, sistema ou processo real. Pode ser tão simples quanto um componente individual ou tão complexo como uma cidade inteira ou até mesmo um ecossistema. Mais importante, o gémeo digital é criado através de dados capturados do seu correspondente no mundo real. Avanços no campo da ciência genómica significam que podemos traduzir a essência fundamental da vida em código digital, que por sua vez pode ser manipulado e reconstruído no mundo real, com o objetivo de criar novos medicamentos e erradicar doenças.
Em 2024, vamos continuar a ver cada vez menos distinção entre o mundo real e o virtual. Isto quer dizer que o digital está cada vez mais realista, e o real a tornar-se tão flexível quanto o digital.
Tecnologia sustentável
A tecnologia sustentável vai continuar a ocupar o centro do palco em 2024, enquanto os países e corporações continuam a trabalhar para chegar aos seus compromissos net-zero. Ao mesmo tempo, todos nós vamos continuar a tirar partido da tecnologia para minimizar os nossos impactos pessoais no ambiente.
Este tipo de tendências tecnológicas incluem formas mais amigas do ambiente de fazer coisas que já fazíamos antes: carros, bicicletas e transportes públicos elétricos vão continuar a aumentar a sua percentagem de presença no mercado. Existem também novas soluções para problemas ambientais, como a captura e armazenamento de carbono, bem como energias verdes e renováveis. A economia circular irá tornar-se um conceito particularmente importante quando a durabilidade, reciclabilidade e reutilizabilidade se tornam fatores decisivos na fase do design dos produtos. E mais: o mundo tech irá abraçar ainda mais ideias, como o green cloud computing, onde as infraestruturas e serviços priorizam a redução do consumo de energia e emissões de carbono e apps sustentáveis nos ajudam a viver de forma mais amiga do ambiente.
Alguns dos desafios para os developers e utilizadores da tecnologia sustentável em 2024 incluem a necessidade de desenvolver métodos sustentáveis e éticos de sourcing e extração de materiais para a construção de dispositivos, a procura por infraestruturas criada pela mudança de hábitos de consumo (como a adopção de veículos elétricos) e a potencial disparidade entre diferentes grupos geográficos e/ou socioeconómicos no seu acesso a alternativas verdes. Também nos tornamos cada vez mais conscientes da existência do greenwashing – esforços superficiais com o objetivo único de gerar publicidade positiva à volta de uma empresa ou tecnologia em particular.
Força de trabalho conectada aumentada
A força de trabalho conectada aumentada (em inglês: augmented-connected workforce ou ACWF) é uma estratégia de optimização do valor derivado da força de trabalho humana.
A necessidade de acelerar e escalar o talento trouxe-nos esta tendência. A ACWF irá utilizar aplicações inteligentes e análise à força de trabalho para dar contexto e orientação diários, para melhorar a experiência dos profissionais, bem como o seu bem-estar e capacidade de desenvolver as suas próprias skills. Ao mesmo tempo, a ACWF potencia resultados de negócio e impactos positivos para stakeholders essenciais.
Até 2027, 25% dos CIOs irão utilizar iniciativas de força de trabalho conectada aumentada para reduzir o “time to competency” (o tempo gasto a dar formação a profissionais ou grupos de profissionais não-especializados com as skills, conhecimentos e confiança para aplicar no dia-a-dia) em 50% para funções essenciais, prevê a Gartner.
Clientes não-humanos
A Gartner define os clientes não-humanos (ou machine customers) como atores económicos não-humanos que podem negociar de forma autónoma e comprar bens e serviços em troca de pagamento.
Até 2028, 15 mil milhões de produtos conectados irão existir com o potencial de se comportarem como clientes, com outros milhares de milhões a seguirem-se em anos conseguintes.
“Esta tendência crescente será a fonte de biliões de dólares em receitas até 2030 e tornar-se-á eventualmente ainda mais significativa do que o comércio digital” diz a Gartner.
Considerações estratégias para este tipo de tendências tecnológicas deverão incluir oportunidades de facilitar estes algoritmos e dispositivos, ou criar ainda novos clientes não-humanos.
Gestão de exposição a ameaças contínuas
A gestão de exposição a ameaças contínuas (em inglês: continuous threat exposure management ou CTEM) é um approach pragmático e sistémico que permite às organizações avaliar a acessibilidade, exposição e explorabilidade dos assets físicos e digitais de uma empresa, de forma contínua e consistente.
“Alinhar os escopos de avaliação e remediação do CTEM com vetores de ameaças ou projetos de negócios, em vez de um componente de infraestrutura, traz à tona não apenas as vulnerabilidades, mas também ameaças incorrigíveis”, informa a Gartner.
Até 2026, a Gartner prevê que as organizações que priorizam os seus investimentos em segurança com base num programa CTEM verão uma redução de dois terços nas violações de segurança.
Edge Computing e Processamento Distribuído
O Edge Computing, que envolve o processamento de dados próximo à sua fonte, ganhará importância à medida que a necessidade por baixa latência e maior eficiência se intensificar. Esta tecnologia será fundamental para aplicações como IoT e realidade aumentada.
Preparando-se para o Futuro
Em Portugal, assim como em todo o mundo, a adesão a estas tendências tecnológicas será crucial para manter a competitividade no mercado de TI. É essencial investir em capacitação e desenvolvimento de habilidades para aproveitar ao máximo estas inovações.
Ao nos prepararmos para 2024 e além, é imperativo que estejamos abertos à mudança e prontos para abraçar novas tecnologias. Aqueles que se adaptam e inovam estarão na vanguarda do progresso empresarial.
Na Olisipo, estamos ansiosos para enfrentar e conjunto com os nossos mais de 600 colaboradores os desafios e oportunidades que o futuro nos reserva, e moldar o cenário tecnológico em Portugal.