As práticas dos últimos anos de cortar rates e remunerações levou-nos a todos, clientes e fornecedores, a um beco sem saída. Para os preços propostos não há recursos disponíveis.
Todos sabemos que nos últimos anos milhares e milhares de talentos portugueses foram trabalhar para o estrangeiro. Hoje, a falta de especialistas faz-se sentir um pouco por todos os sectores de actividade. E não é só nas tecnologias de informação. Falta gente nas engenharias mecânicas e químicas, faltam soldadores e outros outros profissionais da construção. Faltam especialistas em praticamente todas as áreas da actividade económica. A crise dos últimos anos foi sem dúvida a grande responsável por esta hemorragia que enfraqueceu a nossa capacidade de reagir, de crescer e de criar riqueza. Mas não foi a única.
O clima de pessimismo e a aposta em baixos salários tiveram a sua quota de responsabilidade. O pessoal foi trabalhar para o estrangeiro porque lhes propuseram desafios profissionais interessantes e muito melhores condições salariais. Mas muitos deles gostariam de um dia voltar para Portugal. Sim, porque embora tenhamos a mania de nos queixar, quem viveu algum tempo no estrangeiro sabe que viver em Portugal é bestial. Então porque não voltam?
O clima de pessimismo dissipou-se, mas a aposta na mão de obra barata mantém-se. Lá pagam muito melhor. Por isso não voltam.
O país vive nos dias de hoje uma reanimação económica indiscutível. Em todos os sectores de actividade há sinais claros de revitalização. Faltando os nossos, procuramos atrair talentos do estrangeiro. Isso é bom, mas aí estamos a competir com todos os outros países. Temos os nossos argumentos, mas não é fácil. O problema mantêm-se. Pagamos mal.
Quem está na área das tecnologias de informação sabe bem a procura e a disputa que existe por determinados perfis profissionais. Não havendo a capacidade de contratar os melhores, contrata-se os menos maus. É assim mesmo – quem não tem cão, caça com gato. E assim andamos todos a fingir. Com repercussões diretas na qualidade do trabalho realizado. Até quando?
As práticas dos últimos anos de cortar rates e remunerações levou-nos a todos, clientes e fornecedores, a um beco sem saída. É a lei da oferta e da procura no seu melhor. Para os preços propostos não há recursos disponíveis. Alguns já perceberam. Esses vão ficar com os melhores. A correção já começou. Essa tendência, associada aos novos projetos que vão continuar a surgir, permitem alimentar a esperança que muitos dos que foram para fora possam voltar. Portugal, os portugueses, os que regressam e os que nunca partiram, todos iriam beneficiar com esse regresso.