Desde 2024 surgiu no mercado um novo conjunto de ferramentas que está a transformar por completo a forma como criamos produtos digitais. Entre elas, destacam-se o Lovable, Replit, Databutton, v0, Cursor, Windsurf, entre outras.
Mas o que é que torna estas ferramentas tão especiais? Todas elas exploram o conceito de Vibe Coding.
Ou, trocando por miúdos, em vez de sermos nós a escrever cada linha de código, é um agente de IA que o faz por nós.
Imaginem a simplicidade: pedimos “cria-me uma ferramenta para gerir as tarefas do meu departamento” e, passados 5 a 10 minutos, surge uma aplicação funcional, pronta a ser testada e onde, a partir daí, podemos pedir ajustes, afinar funcionalidades e ir moldando o produto quase em tempo real.
É, no fundo, uma nova forma de programar: menos sobre escrever código e mais sobre dialogar com a máquina para transformar intenções em produtos.
E esta nova forma de programar está a abrir as portas para todo um novo universo e paradigma na criação de software.
De onde é que vem a “vibe”?
O termo surgiu num tweet de Andrej Karpathy, uma das vozes mais influentes da inteligência artificial e cofundador da OpenAI. Nesse tweet ele descreve o momento em que, utilizando estas ferramentas, ele deixa de pensar demasiado no código. Ele apenas, descreve o que quer (às vezes com poucas palavras), o sistema constrói, e ele vai seguindo a “vibe”
E foi a partir desse tweet que o conceito ganhou força e rapidamente se espalhou. E o que estamos hoje a ver é uma verdadeira mudança de paradigma no mundo de produtos digitais.
Hoje, já são milhares de pessoas a experimentar e a construir. Só o Lovable reporta que, desde o início deste ano, já foram criadas mais de 100 mil aplicações na sua plataforma.
Um novo paradigma: dos limites do SaaS à flexibilidade infinita
A grande mudança é esta: estamos a ver uma redução drástica das barreiras de entrada.
Com Vibe Coding, a flexibilidade do código está acessível a todos, e não apenas a programadores profissionais. Isto abre espaço para uma nova categoria de software: pessoal, hiperespecífico e de pequena escala. Ferramentas que dificilmente seriam produto comercial, mas que criam enorme valor para quem as utiliza.
Tenho visto isto em primeira mão nos workshops que tenho conduzido: em poucas horas, pessoas sem qualquer experiência em programação transformam ideias em ferramentas reais. O mais impressionante é a diversidade das soluções:
- Pais a desenvolver aplicações para organizar as lancheiras dos filhos.
- Gestores de logística a criar microaplicações para optimizar rotas de camiões.
- Estudantes a construir ferramentas para tarefas académicas muito concretas.
- Equipas financeiras a gerar dashboards personalizados e alertas automáticos para faturas vencidas.
E tudo isto em apenas 4 a 8 horas, mesmo sem formação técnica. Com um pouco mais de trabalho, em menos de uma semana já é possível ter ferramentas que resolvem problemas concretos de forma imediata.
A oportunidade para as organizações
Para organizações inteligentes, o Vibe Coding representa uma nova alavanca de transformação digital:
- Dar autonomia aos colaboradores para resolverem os seus próprios bloqueios.
- Substituir folhas de cálculo improvisadas e processos manuais por aplicações internas leves.
- Estimular uma cultura de inovação onde as soluções surgem das equipas, e não apenas do departamento de TI.
É uma forma de escalar a transformação sem aumentar equipas. Em vez de esperar meses por aprovações e recursos, um colaborador pode prototipar e lançar a sua própria ferramenta numa semana.
A vantagem para os programadores
E os programadores? Longe de ficarem para trás, são talvez os maiores beneficiários.
Com a programação assistida por IA, podem multiplicar a produtividade por 10x, automatizar tarefas repetitivas e focar-se no que realmente importa: arquitetura, design e resolução de problemas complexos.
Neste novo contexto, o programador torna-se orquestrador e acelerador de sistemas, capaz de entregar soluções a uma velocidade inédita, ao mesmo tempo que apoia colegas não técnicos que agora também têm ferramentas para construir.
Tempos revolucionários
Há ainda muitos que continuam a negar, mas estamos mesmo no início de uma mudança profunda.
O Vibe Coding não é uma moda passageira. É uma janela para o futuro da forma como interagimos com a tecnologia.
Estas ferramentas há 18 meses não existiam. Há 12 meses mal eram conhecidas. Há 6 meses limitavam-se a protótipos. E hoje já constroem micro-apps funcionais.
Quem sabe onde estaremos daqui a 6, 12 ou 18 meses?
A verdade é esta: antes, o software era algo restrito a especialistas. Agora, está a tornar-se um meio universal de resolução de problemas e criatividade, acessível a qualquer pessoa com uma ideia e vontade de experimentar.
As vibes são reais. E revolucionárias!
by Filipe Pinho Pereira
Fundador Oktogon Labs e formador em Vibe Coding