Categorias
Formação Opinião

O código secreto por detrás da inovação tecnológica

No mercado tecnológico, onde as ferramentas mudam quase ao ritmo dos seus lançamentos, as competências técnicas são apenas metade da equação. A outra metade são as chamadas soft skills, capacidades que não se medem em linhas de código, mas que determinam a qualidade, a inovação e a resiliência de qualquer projeto. Comunicação, colaboração, resolução de problemas, pensamento crítico, adaptabilidade e liderança são hoje indispensáveis para transformar conhecimento técnico em impacto real. Afinal, a tecnologia pode mudar rápido, mas é o lado humano que dita quem a acompanha e quem fica para trás.

Entre todas, a comunicação tem ganho particular destaque. Hoje em dia, tudo começa na comunicação: é ela que garante que requisitos são compreendidos à primeira, que expetativas estão alinhadas e que a informação circula sem ruído. E quando falha, percebe-se o óbvio: comunicar bem é, muitas vezes, o atalho mais curto entre um problema e a sua solução. Não é por acaso que a colaboração, a capacidade de resolver problemas e a liderança caminham de mãos dadas com esta competência. Uma revisão de código, por exemplo, não é apenas um exercício técnico. Exige espírito crítico, clareza na argumentação e sensibilidade para lidar com diferentes perspetivas.

A procura por formações em soft skills tem crescido porque as empresas perceberam que confiar em apenas competências técnicas já não chega. A tecnologia, por si só, não resolve os desafios mais complexos. São as pessoas, com a sua capacidade de trabalhar em equipa, de questionar o óbvio e tomar decisões sob pressão, que tornam possíveis soluções mais eficazes.

Cabe às organizações assumir um papel mais ativo na criação de contextos de trabalho que sejam, ao mesmo tempo, ambientes de aprendizagem contínua. Porque as pessoas estão sempre a aprender. E as empresas que investem no desenvolvimento dos seus colaboradores colhem benefícios: equipas mais alinhadas, decisões mais rápidas e maior capacidade de adaptação a imprevistos. É fácil esquecer, mas empresas que não formam pessoas estão, na prática, a criar problemas.

Integrar soft skills na formação tecnológica significa criar experiências práticas e mensuráveis. Workshops com cenários de pressão e simulações de reuniões com diferentes intervenientes permitem avaliar não só o resultado técnico, mas também o raciocínio, a clareza de comunicação e a forma como se chega a consensos. 

Num setor onde várias gerações trabalham lado a lado, estas competências são a ponte que as liga. A escuta ativa permite aprender com a experiência, a curiosidade abre espaço para novas abordagens e novas formas de pensar, e a capacidade de negociar e colaborar transforma diversidade em força. Porque, no fim, a diversidade só é uma vantagem quando existe a capacidade de a ouvir.

A ideia de que não há tempo para desenvolver estas competências porque é preciso acompanhar a última atualização tecnológica é enganadora. Na prática, as soft skills funcionam como aceleradores técnicos, não atrasam a tecnologia, aceleram-na, ajudando a absorver novas ferramentas mais depressa, evitam erros básicos e criam soluções mais sustentáveis.

No fundo, estas aptidões não são um complemento. São o sistema operativo humano que mantém as equipas a funcionar, mesmo quando tudo à nossa volta muda. As organizações que dão o primeiro passo e tratam os seus colaboradores como o seu primeiro cliente percebem este conceito. Investir em soft skills é investir em profissionais completos e em equipas capazes de inovar com solidez, colocando sempre as pessoas no centro. A verdade é que se a tecnologia é o motor, estas competências são a direção, e de pouco serve acelerar se não sabemos para onde ir.

by José Ninhos

Lead Learning @Olisipo

Categorias
Formação Inteligência Artificial Opinião

“Vibe Coding” – Como a IA está a transformar a criação de novos produtos

Desde 2024 surgiu no mercado um novo conjunto de ferramentas que está a transformar por completo a forma como criamos produtos digitais. Entre elas, destacam-se o Lovable, Replit, Databutton, v0, Cursor, Windsurf, entre outras.

Mas o que é que torna estas ferramentas tão especiais? Todas elas exploram o conceito de Vibe Coding.

Ou, trocando por miúdos, em vez de sermos nós a escrever cada linha de código, é um agente de IA que o faz por nós.

Imaginem a simplicidade: pedimos “cria-me uma ferramenta para gerir as tarefas do meu departamento” e, passados 5 a 10 minutos, surge uma aplicação funcional, pronta a ser testada e onde, a partir daí, podemos pedir ajustes, afinar funcionalidades e ir moldando o produto quase em tempo real.

É, no fundo, uma nova forma de programar: menos sobre escrever código e mais sobre dialogar com a máquina para transformar intenções em produtos.

E esta nova forma de programar está a abrir as portas para todo um novo universo e paradigma na criação de software.

De onde é que vem a “vibe”?

O termo surgiu num tweet de Andrej Karpathy, uma das vozes mais influentes da inteligência artificial e cofundador da OpenAI. Nesse tweet ele descreve o momento em que, utilizando estas ferramentas, ele deixa de pensar demasiado no código. Ele apenas, descreve o que quer (às vezes com poucas palavras), o sistema constrói, e ele vai seguindo a “vibe”

E foi a partir desse tweet que o conceito ganhou força e rapidamente se espalhou. E o que estamos hoje a ver é uma verdadeira mudança de paradigma no mundo de produtos digitais.

Hoje, já são milhares de pessoas a experimentar e a construir. Só o Lovable reporta que, desde o início deste ano, já foram criadas mais de 100 mil aplicações na sua plataforma.

Um novo paradigma: dos limites do SaaS à flexibilidade infinita

A grande mudança é esta: estamos a ver uma redução drástica das barreiras de entrada.

Com Vibe Coding, a flexibilidade do código está acessível a todos, e não apenas a programadores profissionais. Isto abre espaço para uma nova categoria de software: pessoal, hiperespecífico e de pequena escala. Ferramentas que dificilmente seriam produto comercial, mas que criam enorme valor para quem as utiliza.

Tenho visto isto em primeira mão nos workshops que tenho conduzido: em poucas horas, pessoas sem qualquer experiência em programação transformam ideias em ferramentas reais. O mais impressionante é a diversidade das soluções:

  • Pais a desenvolver aplicações para organizar as lancheiras dos filhos.
  • Gestores de logística a criar microaplicações para optimizar rotas de camiões.
  • Estudantes a construir ferramentas para tarefas académicas muito concretas.
  • Equipas financeiras a gerar dashboards personalizados e alertas automáticos para faturas vencidas.

E tudo isto em apenas 4 a 8 horas, mesmo sem formação técnica. Com um pouco mais de trabalho, em menos de uma semana já é possível ter ferramentas que resolvem problemas concretos de forma imediata.

A oportunidade para as organizações

Para organizações inteligentes, o Vibe Coding representa uma nova alavanca de transformação digital:

  • Dar autonomia aos colaboradores para resolverem os seus próprios bloqueios.
  • Substituir folhas de cálculo improvisadas e processos manuais por aplicações internas leves.
  • Estimular uma cultura de inovação onde as soluções surgem das equipas, e não apenas do departamento de TI.

É uma forma de escalar a transformação sem aumentar equipas. Em vez de esperar meses por aprovações e recursos, um colaborador pode prototipar e lançar a sua própria ferramenta numa semana.

A vantagem para os programadores

E os programadores? Longe de ficarem para trás, são talvez os maiores beneficiários.

Com a programação assistida por IA, podem multiplicar a produtividade por 10x, automatizar tarefas repetitivas e focar-se no que realmente importa: arquitetura, design e resolução de problemas complexos.

Neste novo contexto, o programador torna-se orquestrador e acelerador de sistemas, capaz de entregar soluções a uma velocidade inédita, ao mesmo tempo que apoia colegas não técnicos que agora também têm ferramentas para construir.

Tempos revolucionários

Há ainda muitos que continuam a negar, mas estamos mesmo no início de uma mudança profunda.

O Vibe Coding não é uma moda passageira. É uma janela para o futuro da forma como interagimos com a tecnologia.

Estas ferramentas há 18 meses não existiam. Há 12 meses mal eram conhecidas. Há 6 meses limitavam-se a protótipos. E hoje já constroem micro-apps funcionais.

Quem sabe onde estaremos daqui a 6, 12 ou 18 meses?

A verdade é esta: antes, o software era algo restrito a especialistas. Agora, está a tornar-se um meio universal de resolução de problemas e criatividade, acessível a qualquer pessoa com uma ideia e vontade de experimentar.

As vibes são reais. E revolucionárias!

by Filipe Pinho Pereira

Fundador Oktogon Labs e formador em Vibe Coding