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Onde é a próxima Silicon Valley?

Não há quem nunca tenha ouvido falar de Silicon Valley – ou Vale do Silício, em português.

Há muito que esta região a sul de São Francisco tem sido sinónimo de inovação e não é por acaso que as grandes empresas tecnológicas aqui se concentram: Apple, Google, Facebook, HP, Microsoft, todas elas nasceram e vivem em Silicon Valley. Porquê?

Atraindo cerca de 40% da totalidade do financiamento de risco nos Estados Unidos, Silicon Valley rapidamente se tornou o paraíso das startups e dos empreendedores que viajam de todas as partes do mundo na esperança de descobrir aqui a receita do sucesso. A concentração de talentos, o apoio educacional, o espírito colaborativo e a cultura ousada e ambiciosa que aqui se vive, fazem de Silicon Valley o maior pólo tecnológico do mundo… por agora.

Adeus, Silicon Valley?

Apesar de continuar a gozar da sua popularidade, Silicon Valley já não é o destino número um para o talento, diz o Global Startup Ecosystem Report and Ranking 2017. A verdade é que os Estados Unidos estão a começar a perder terreno para outras potências tecnológicas na Europa e na Ásia.

Cidades em todo o mundo estão a trabalhar para “tirar a taça” à capital tecnológica nos Estados Unidos. Então onde será que vai nascer a próxima Apple ou o próximo Mark Zuckerberg? Será que as restantes cidades têm capacidade para competir com a superioridade do Vale do Silício?

As potências emergentes da Europa

Podemos pensar que a Europa não tem feito progressos significativos na área das tecnologias, sobretudo por Londres – um dos seus maiores pólos tecnológicos – estar num processo de saída da União Europeia, o que trouxe um grande clima de incerteza em todo o continente.

Mas a realidade não é bem essa. Agora, também a Europa está a conseguir alcançar os Estados Unidos e já apresenta um cenário mais optimista para o financiamento de risco.

Berlim já é o ecossistema de startups que está a crescer mais em todo o mundo e outras cidades como Amesterdão, Dublin, Estocolmo e Helsínquia também estão a seguir os mesmos passos.

E nem a capital portuguesa fica atrás. Ter recebido em 2016 o Web Summit – um dos maiores eventos tecnológicos do mundo – fez com que muitos se tenham questionado se estaríamos perante o próximo “tech hub” da Europa. A qualidade de vida, as rendas baratas (comparando com outros destinos europeus) e o clima fantástico, fazem da cidade uma aposta atrativa para startups e novos talentos. Por outro lado, as ajudas no financiamento e os benefícios fiscais de que as novas empresas beneficiam tornam Lisboa um destino muito atrativo no contexto europeu.

Por outro lado, o facto de estes centros tecnológicos estarem espalhados por vários pontos do continente, também significa que nunca estarão tão intimamente ligados como em Silicon Valley, onde a facilidade de criar networking é um dos seus principais fatores de sucesso. Mas tem havido um esforço em unir esta comunidade dispersa de investidores ao começarem a surgir muitas oportunidades de co-investimento em novas ideias de negócio na Europa.

Ásia, a grande promessa

A Ásia já ultrapassou a Europa no número de centros de inovação, operando agora quase um terço (29%) do total deste tipo de centros no mundo. O domínio de Silicon Valley no mundo da tecnologia começa a ser questionado, com a Ásia agora a crescer mais rapidamente que os Estados Unidos.

Estamos perante um grande aumento do empreendedorismo na região e da mobilização, principalmente entre jovens empreendedores. A China, Índia e Japão são locais de referência que já atraem milhares de novos negócios. No entanto, o continente ainda enfrenta alguns desafios, nomeadamente na existência de algumas barreiras legais para estrangeiros, principalmente na obtenção de vistos e falta de financiamento público.

O Sudeste Asiático tem sido a maior surpresa na indústria das startups tecnológicas, beneficiando da sua grande diversidade de visões políticas e atividades económicas pelo que já se tem tornado a casa de alguns “unicórnios” (empresas avaliadas em mais de 1 bilião de dólares).

A próxima Silicon Valley é… em todo o lado

Todos querem construir a próxima Silicon Valley e identificar qual a cidade que tem os “ingredientes” certos para ser tornar o próximo grande pólo tecnológico. Mas não basta que uma cidade tenha a receita ideal para o sucesso. No final, tem tudo a ver com as pessoas e a mentalidade das mesmas.

Porque é que Silicon Valley conseguiu crescer mais que outros sítios na Europa e na Ásia se existem cidades igualmente avançadas e com condições semelhantes ou melhores? Silicon Valley cresceu devido à sua capacidade para atrair os mais ambiciosos e apaixonados talentos. E isso deve-se à sua cultura empreendedora e “risk-taker” que consegue trazer os melhores profissionais dos cantos mais remotos do planeta.

Em muitas partes do mundo, mentes brilhantes são desperdiçadas todos os dias porque em vez de seguirem os seus sonhos, acabam por se conformar com a estrutura e normas que o seu país impõe. Mas esta mentalidade “de empreendedor” continua a crescer um pouco por todo o lado ao ouvirmos constantemente as histórias inspiradoras de Steve Jobs ou Elon Musk que vingaram por correrem riscos.

Muitos governos e organizações já identificaram estes fatores e é por isso que estão agora a criar os seus próprios métodos de atração de talento. E isso significa que não vai apenas existir uma próxima Silicon Valley, mas muitas outras que estão agora a surgir em todo o mundo.

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As 10 melhores partidas do Dia das Mentiras no mundo da tecnologia

Já é habitual: todos os anos, as maiores empresas no mundo da Tecnologia comemoram o Dia das Mentiras com o lançamento de produtos falsos, notícias absurdas e piadas hilariantes.

Quais foram as melhores partidas que as marcas já pregaram à sua rede de fãs no primeiro dia de Abril?

Youtube, 2016

O Youtube lançou o SnoopaVision, em versão beta. O objetivo? Ter a oportunidade de ver todos os vídeos do website numa experiência completamente imersiva a 360 graus… com o Snoop Dogg.

Toshiba, 2013

A fasquia está cada vez mais alta no mundo dos videojogos e foi por isso que a Toshiba lançou o Shibasphere, uma consola de jogos sem fios, sem comandos e sem limites. O aparelho apresentava um “impressionante leque de jogos hiper-realistas” que ia de uma experiência de controlo de segurança no aeroporto à simulação de acariciar um cão.

Skype, 2013

Preocupados com a evolução do turismo espacial, o Skype revelou o Skype in Space, uma ferramenta que permitia fazer videochamadas em toda a galáxia. As novas funcionalidades incluíam uma rotação de vídeo automática (caso a falta de gravidade nos virasse do avesso) e um centro de ajuda para traduções (com um grupo de especialistas que se comprometia a aprender a linguagem dos seres vivos que existem pelo espaço).

Samsung, 2013

A Samsung lançou, a Eco-Tree, um “novo produto” que era capaz de fornecer oxigénio, dar abrigo e funcionava como um purificador de ar movido a energia solar. Ainda oferecia a possibilidade de adquirir diferentes “modelos” com diferentes tamanhos e design.

Sony, 2013

Agora que há mais famílias com animais do que crianças, a Sony recorreu ao Twitter para lançar os Cat Can, uns auscultadores desenhados especialmente para… gatos. #techforpets

Google Maps, 2013

A Google Maps lançou o “Treasure Mode”, uma funcionalidade que permitia visualizar os mapas em modo “Caça ao Tesouro”, onde teoricamente existia uma série de símbolos encriptados que os utilizadores deveriam ajudar a decifrar.

Google Photos, 2016

A Google Photos apresentou neste dia uma nova ferramenta que permitia fazer uma pesquisa por emoji na nossa colecção de fotos (desde que esse emoji fosse um cão).

Tesla, 2015

A Tesla decidiu implementar algo num dos seus modelos de carro que todos gostaríamos de ter na vida real: um modo inteligente que era capaz de evitar multas de estacionamento ao “fugir” dos polícias sempre que aproximavam para passar uma multa.

T-Mobile, 2016

A T-Mobile não quer que percamos um segundo das nossas séries preferidas. Por isso, inventou um dispositivo chamado “Binge On Up” que nos permitia ser produtivos enquanto continuávamos a ver televisão.

Amazon.com, 2016

A Amazon decidiu optar por uma partida mais “retro” e alterou o design da sua homepage para imitar a página que utilizavam por volta de 1999. Apesar da partida apenas durar 30 segundos, foi uma forma engraçada de voltar atrás no tempo e perceber o quanto a tecnologia já evoluiu nos últimos anos.

E em 2017? Quem mentiras já apanharam?

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Quem é o CIO de amanhã?

A linha que separa a tecnologia do mundo dos negócios é cada vez mais ténue. A tecnologia já não é o trabalho de apenas um departamento, está agora enraizada em todas as áreas das organizações. E à medida que o papel da tecnologia dentro das empresas evolui, o papel do CIO segue o mesmo rumo.

Por isso, o papel do CIO de hoje não é fácil: É preciso encontrar um equilíbrio entre as funções de ontem e as exigências da transformação digital de amanhã. Esse é um dos maiores desafios e a razão pela qual os líderes nesta área têm de se adaptar a uma nova realidade.

Então, quem é o CIO do futuro? Que desafios vai enfrentar e como poderá continuar a estimular a inovação no meio de trabalho?

As características do novo CIO

Está na linha da frente das decisões estratégicas. Já lá vai o tempo em que o CIO assumia uma posição “back office” na empresa. Agora, o CEO olha para o CIO como um líder estratégico e não apenas como um líder de departamento. Por isso, é fundamental que esta pessoa tenha fortes capacidades de liderança, persuasão e também de inteligência emocional.

É um agente da mudança. Futurista e inovador: são duas palavras que devem definir o CIO do futuro. Segundo a Accenture, 34% das empresas já vê o departamento de TI como uma das principais fontes de inovação e mudança para empresa no geral, não apenas no seu departamento.

É proativo na procura de soluções, mesmo que não estejam diretamente relacionados com a sua área. No futuro, não vai haver lugar para um departamento de TI “preguiçoso”: a inovação move-se a ritmo cada vez mais acelerado e por isso, já não basta esperar que os problemas surjam. O CIO de amanhã terá de encontrar formas criativas de criar soluções que acompanhem o ritmo da mudança.

É alguém que veste muitos chapéus. O novo CIO estará preocupado em liderar a revolução digital e abraçar projetos e desafios multidisciplinares que “fogem” da sua área de conhecimento. O CIO terá de ser capaz de entender todas as áreas de negócio da empresa e encontrar respostas tecnológicas que se adaptem a cada uma delas.

Tem conhecimento na área das finanças. À medida que o budget na área das TI aumenta, o CIO terá uma maior responsabilidade em questões financeiras. Isto significa que terá de entender os conceitos e as implicações que as suas decisões estratégicas poderão ter para a globalidade da empresa.

Pode não ser um informático. Ter um conhecimento geral na área das tecnologias da informação é fundamental para compreender os desafios com que se irá deparar. Mas o CIO de amanhã já não terá de ser um “expert” ou ter uma formação altamente técnica nesta área, já que terá preocupações mais ligadas à parte estratégica do seu papel. A capacidade de ser perspicaz, crítico e saber influenciar os restantes terá um papel mais relevante que saber todas as especificidades técnicas das TI. Na Europa e nos Estados Unidos, cerca de 50% das pessoas que ocupam esta posição já têm backgrounds menos técnicos e mais direcionados para a área da gestão e a tendência continuará a enveredar por este caminho.

E o que significa tudo isto para o CIO de hoje?

Para alguns poderão ser boas notícias, para outros nem tanto. Embora o CIO tenha cada vez mais “voz” e peso de decisão na empresa, também é verdade que irá desempenhar um papel cada vez mais exigente e desafiante.

Muitos ainda não estão preparados para um cenário tão disruptivo, mas já não basta sentar-se no banco traseiro e fazer o que se fez até agora.

E quanto mais rápido o CIO de hoje se tornar no líder de amanhã, mais rapidamente as empresas poderão estar na vanguarda da inovação e transformação digital.

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Os nossos talentos vão voltar?

As práticas dos últimos anos de cortar rates e remunerações levou-nos a todos, clientes e fornecedores, a um beco sem saída. Para os preços propostos não há recursos disponíveis.

Todos sabemos que nos últimos anos milhares e milhares de talentos portugueses foram trabalhar para o estrangeiro. Hoje, a falta de especialistas faz-se sentir um pouco por todos os sectores de actividade. E não é só nas tecnologias de informação. Falta gente nas engenharias mecânicas e químicas, faltam soldadores e outros outros profissionais da construção. Faltam especialistas em praticamente todas as áreas da actividade económica. A crise dos últimos anos foi sem dúvida a grande responsável por esta hemorragia que enfraqueceu a nossa capacidade de reagir, de crescer e de criar riqueza. Mas não foi a única.

O clima de pessimismo e a aposta em baixos salários tiveram a sua quota de responsabilidade. O pessoal foi trabalhar para o estrangeiro porque lhes propuseram desafios profissionais interessantes e muito melhores condições salariais. Mas muitos deles gostariam de um dia voltar para Portugal. Sim, porque embora tenhamos a mania de nos queixar, quem viveu algum tempo no estrangeiro sabe que viver em Portugal é bestial. Então porque não voltam?

O clima de pessimismo dissipou-se, mas a aposta na mão de obra barata mantém-se. Lá pagam muito melhor. Por isso não voltam.

O país vive nos dias de hoje uma reanimação económica indiscutível. Em todos os sectores de actividade há sinais claros de revitalização. Faltando os nossos, procuramos atrair talentos do estrangeiro. Isso é bom, mas aí estamos a competir com todos os outros países. Temos os nossos argumentos, mas não é fácil. O problema mantêm-se. Pagamos mal.

Quem está na área das tecnologias de informação sabe bem a procura e a disputa que existe por determinados perfis profissionais. Não havendo a capacidade de contratar os melhores, contrata-se os menos maus. É assim mesmo – quem não tem cão, caça com gato. E assim andamos todos a fingir. Com repercussões diretas na qualidade do trabalho realizado. Até quando?

As práticas dos últimos anos de cortar rates e remunerações levou-nos a todos, clientes e fornecedores, a um beco sem saída. É a lei da oferta e da procura no seu melhor. Para os preços propostos não há recursos disponíveis. Alguns já perceberam. Esses vão ficar com os melhores. A correção já começou. Essa tendência, associada aos novos projetos que vão continuar a surgir, permitem alimentar a esperança que muitos dos que foram para fora possam voltar. Portugal, os portugueses, os que regressam e os que nunca partiram, todos iriam beneficiar com esse regresso.

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A Inteligência Emocional na era da Inteligência Artificial

A Inteligência Artificial não irá apenas “roubar” o emprego a trabalhadores de fábrica e camionistas. Mesmo as profissões que nunca imaginámos sem a presença de um ser humano – médicos, professores ou consultores – vão sofrer grandes mudanças no futuro.

É fácil perceber o papel que a Inteligência Artificial irá ter em tarefas mais simples, como na recolha e análise de dados. Mas o seu potencial vai muito além disso: as pessoas são inevitavelmente tendenciosas e tomam decisões com base no seu pequeno conjunto de experiências e opiniões. Um computador não: tem acesso a quantidades incríveis de informação que processa e analisa rapidamente.

Quem acredita que nunca iremos confiar nas máquinas para tomar decisões importantes, vive no século passado. Muitos computadores já resolvem casos médicos difíceis de diagnosticar, por exemplo.

À medida que os computadores entram em cena e começam a executar muitas das nossas tarefas, teremos de desenvolver novas capacidades que realmente nos diferenciem dos outros e dos computadores.. Mas quais? E como?

Desenvolver a nossa Inteligência Emocional

Mas o que é ser emocionalmente inteligente? Todos os espaços de trabalho possuem pessoas diferentes, com características e emoções diferentes. Ser emocionalmente inteligente significa saber identificar e gerir, tanto as nossas emoções como as dos outros à nossa volta.

A inteligência emocional é hoje mais importante que nunca e será fundamental para que tenhamos sucesso no futuro das “máquinas”.  Claro que isto são boas notícias para quem já tem um EQ (Emotional Quotient) elevado. Mas será possível desenvolver as nossas skills inter-pessoais?

Desenvolver a nossa inteligência emocional pode levar tempo e exige alguma dedicação, mas é perfeitamente possível. Para isso, damos-te algumas dicas para começares a pôr em prática agora mesmo:

Torna-te mais auto-consciente. Isto significa ser capaz de compreender e interpretar os nossos estados de espírito e como eles afetam as pessoas à nossa volta. “Como é que os outros se vão sentir se eu fizer isto?” é uma pergunta importante. Aqui importa identificar as nossas emoções negativas mais comuns (como a frustração, a raiva, a desmotivação) e perceber que situações as desencadeiam para as podermos evitar.

Desenvolve o teu auto-controlo. Tenta entender como te comportas em situações de stress. A capacidade de controlar comportamentos impulsivos e manter-se calmo é muito valorizado no mundo do trabalho. O melhor é tentar afastar-se de dramas e conflitos que possam desencadear comportamentos negativos. E se isso não for possível, um bom conselho é esperar algumas horas ou dias antes de reagir a uma situação emocionalmente difícil. Também é importante encontrar formas de lidar com este stress fora do trabalho, através do exercício ou com outros hobbies e interesses que funcionem como um “escape”.

Aprende a interpretar as emoções dos outros. É importante que te coloques no lugar dos outros e mostrar-lhes que compreendes a sua perspectiva. Mantêm uma mente aberta e evita estereótipos ou conclusões precipitadas. Quando as pessoas se sentem ouvidas, têm mais tendência para colaborar e fazer cedências.

Melhora as tuas “skills” sociais. Isto significa ter a capacidade de gerir relações e construir uma rede de contactos. Uma das melhores formas de ser um bom comunicador é saber ouvir, colocar questões pertinentes e fornecer informação de forma breve e clara. Torna-te a pessoa a quem todos recorrem para encontrar soluções e resolver conflitos e rapidamente tornar-te-ás num elemento essencial para a equipa.

A humanização da Inteligência Artificial

São as nossas competências mais “humanas” que vão ter lugar de destaque nos próximos tempos. Qualidades como a persuasão, criatividade, empatia e consciência social vão ser o nosso fator de diferenciação em relação às máquinas – pelo menos por enquanto.

Será que os computadores vão parar por aqui?

Plataformas digitais como a Amazon Mechanical Turk dão a oportunidade às empresas de publicar pequenas tarefas/trabalhos no website onde qualquer pessoa pode completá-las em troca de alguns cêntimos ou dólares.

Há mais de 500.000 “Turkers” espalhados por todo o mundo. São estas pessoas que fazem parte da força de trabalho “invisível” que desempenha um papel fundamental em treinar as máquinas inteligentes. Como? Completando tarefas que são fáceis para qualquer ser humano, mas difíceis para um computador – como identificar um rosto feliz ou assustado. Estes sistemas inteligentes estão a ser treinados para fazer coisas que até agora pensámos serem demasiado complexas para qualquer computador, como identificar emoções nos humanos.

Já não estamos longe de ver um “computador emocional”. Já existem cientistas a trabalhar em computadores capazes de pensar e sentir – não através de programação ou aprendizagem repetitiva – mas como um cérebro humano.

A era dos robots e da inteligência artificial é inevitável. A boa notícia é que outra vantagem do ser humano é a capacidade de mudar. Iremos adaptar-nos e tirar o máximo partido desta nova realidade no futuro. Até porque não temos outra opção.

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Dicas para manter o telemóvel livre de vírus

Pode ser difícil acreditar mas, na maioria das vezes, a maior vulnerabilidade de um telemóvel é o seu utilizador. Sim, tu!

Eis algumas dicas simples para manteres o telemóvel seguro e protegido contra ameaças:

  • Cuidado com os ficheiros que abres

Esta regra vale para qualquer equipamento que utilizes. Isto significa não abrir ficheiros em anexo de e-mail ou MMS de remetentes desconhecidos. E mesmo conhecendo o remetente, se a mensagem parecer suspeita, é possível que a conta tenha sido infetada com um vírus.

  • Faz download de aplicações de fontes seguras

Procura fazer downloads apenas a partir das lojas oficiais do teu sistema operativo, como a Google Play ou App Store. Se decidires recorrer a uma loja alternativa, confirma se é segura e certificada.

Infelizmente, nem mesmo as lojas de aplicações “seguras” estão a salvo. De vez em quando, algumas aplicações infectadas com malware conseguem entrar nestas plataformas.

Por isso, se descobrires uma aplicação desconhecida, pode ser boa ideia verificar algumas reviews de outros utilizadores para assegurar que a app não tem problemas. Se não existir nenhum comentário, então o melhor é mesmo não arriscar.  

  • Controla as permissões das aplicações

Desconfia sempre de uma aplicação que pede acesso a coisas que não são necessárias para o seu funcionamento. Afinal, porque é que um jogo iria precisar de acesso à tua lista de contactos?

  • Não partilhes o cartão memória

É importante nunca utilizar o cartão memória em vários telemóveis. Um cartão infectado pode facilmente transmitir um vírus e comprometer todos os nossos dados.

  • Verifica as tuas opções de Bluetooth

Alguns vírus conseguem entrar na rede do telemóvel, roubar dados e até desligar o dispositivo através do Bluetooth, por isso é importante manter o seu estado “invisível” ou mesmo desligado, se possível.

  • Atualiza o sistema operativo

Deves manter o teu equipamento sempre atualizado com a última versão, até porque muitas atualizações servem para otimizar a segurança do telemóvel.

  • Evita as redes Wi-Fi públicas

Devemos evitar fazer transações confidenciais em redes Wi-Fi públicas. As redes públicas são, por norma, locais onde os hackers costumam atuar para interceptarem discretamente as nossas informações. O ideal é utilizar os dados móveis do telemóvel.

Os ciber-criminosos estão a adoptar estratégias cada vez mais avançadas, por isso o cuidado nunca é pouco. Até porque grande parte dos vírus são criados especificamente para nos roubar dinheiro.

Os telemóveis já começaram a substituir o computador no nosso dia-a-dia. Por isso, se protegemos o nosso computador, porque não fazemos o mesmo com o telemóvel?

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Programação: Porque todos devem aprender e como começar

Muitas pessoas aprendem a programar porque são entusiastas da Informática e procuram uma carreira a construir web sites ou aplicações mobile. Mas a programação não é só para informáticos, geeks ou nerds: todos podem sair a ganhar.

Saber programar: Tão importante quanto saber ler?

Muitas das plataformas que utilizamos hoje podem ser programadas de alguma forma. O Excel, por exemplo, já nos deixa criar um conjunto de comandos para nos ajudar a gerir e trabalhar com as folhas de cálculo.

Por isso, aprender a programar pode tornar-nos mais produtivos e eficientes no nosso dia-a-dia. Mas não só: programar é ter a oportunidade de ver o mundo a partir de uma nova perspetiva.

Ainda não estás convencido? Eis algumas das vantagens em aprender mais sobre programação:

  1. Aprender a resolver problemas melhor

Escrever um código é como estar numa aula de matemática: Começamos com um problema que precisa de ser resolvido para obtermos uma solução. Depois testamos essa solução para encontrar falhas ou melhorias e, a partir daí, podemos criar uma solução ainda melhor. Esta estratégia de “problem-solving” pode ser aplicada em praticamente todos os aspetos da nossa vida. Saber como agir perante um problema e testar diferentes abordagens para o solucionar pode fazer uma diferença incrível na nossa carreira e vida pessoal.

  1. Ser um líder melhor

Enquanto líder de uma equipa ou empresa, é crucial saber trabalhar com as pessoas que estão ligadas à área da tecnologia. É muito comum haver uma barreira entre os engenheiros e os gestores, principalmente pela falta de noção em relação ao que cada um faz e os processos que isso envolve. Conseguir criar uma ponte entre estes dois mundos é, sem dúvida, o caminho certo para o sucesso.

  1. Aumentar o nosso potencial

A capacidade de participar de forma ativa, mesmo em situações que não façam parte da nossa área, é vista como uma grande mais-valia. Ter know-how na área da programação poderá dar-nos a capacidade de entender melhor como as peças do puzzle se encaixam no negócio, transformando-nos num ativo realmente valioso para qualquer empresa.

  1. É quase como um “super-poder”

Num mundo rodeado quase somente de software, apps e web sites, saber criar essas coisas pelas nossas próprias mãos é verdadeiramente poderoso. Aprender pode nem sempre ser fácil, mas será sempre uma experiência gratificante, que pode até mudar a nossa vida.

É de pequenino que “se torce o pepino”

Há muito que a tecnologia invadiu as salas de aula dos mais pequenos. As crianças já aprendem a utilizá-la, mas será que também aprendem como funciona?

É este o objetivo do programa “Iniciação à Programação”, que já arrancou o ano passado em 630 escolas em todo o país. A iniciativa já pôs crianças do Ensino Básico a dar os primeiros passos no mundo da Programação através de plataformas como o Kodu – que lhes ensina a criar um jogo de raiz – e o Scratch, uma nova linguagem criada pelo MIT, que dá liberdade às crianças para criar as suas próprias animações, músicas e histórias interativas.

Isto não quer dizer que estamos a formar as nossas crianças para serem a próxima geração de engenheiros informáticos. Este tipo de programas ajuda-as a resolverem problemas mais rapidamente, a saberem lidar com os seus erros, a trabalharem em equipa e aprenderem a olhar para as coisas sob uma perspetiva diferente – qualidades fundamentais para terem sucesso em qualquer carreira.

Por enquanto, cabe às escolas a decisão de se envolverem na iniciativa. Mas acreditamos que, no futuro, a programação será ensinada nas escolas lado a lado com outras disciplinas importantes, como a Matemática.

Por onde começar?

Já entendemos a importância que a programação pode ter na nossa vida. E agora, qual é o passo seguinte?

Felizmente, nunca foi mais fácil aprender a escrever uma linha de código. Existem tantas plataformas – muitas delas gratuitas – que nos ajudam a aventurar neste mundo.

Eis alguns exemplos:

  1.  Codecademy – No website interativo desta startup podemos aprender a programar em HTML/CSS, Javascript, Python e Ruby on Rails, criando e executando os nossos próprios projetos. Até têm uma aplicação – Hour of Code – que nos permite programar e utilizar um programa criado por nós, tudo a partir do iPhone. A melhor parte? Todos os conteúdos são fáceis de aceder e completamente gratuitos.
  2. Code.org – Apoiada por empresas como o Facebook, o Google e a Apple, a Code.org oferece uma grande quantidade de tutoriais para iniciantes que querem aprender a programar. Podemos até criar a nossa própria versão do Flappy Bird com o nosso toque personalizado.
  3. Code Avengers – O Code Avengers foi criado para nos fazer adorar a programação. Apesar de não oferecer uma grande variedade de linguagens, os cursos têm uma abordagem de ensino divertida enquanto desenvolvemos as nossas skills informáticas sem qualquer esforço.
  4. Code School – Esta plataforma é ideal para quem quer alargar o seu conhecimento depois de completar os cursos para iniciantes da CodeAcademy ou Code Avengers. Ao contrário destas plataformas, a Code School oferece cursos mais aprofundados para nos tornarmos verdadeiros experts em programação.
  5. Treehouse – Os cursos da Treehouse são mais orientados para projetos específicos do que para a linguagem em si, o que significa que é a ferramenta perfeita para o novato que já tem um projeto em mente, como criar uma aplicação ou um web site.

“Acho que qualquer pessoa deveria aprender programação, porque ensina-nos a pensar.”

Steve Jobs

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As cidades mais “Smart” do mundo

Em 2050, 70% da população mundial viverá numa cidade. Por esta altura, Portugal também terá grande parte da população a viver nos centros urbanos, cerca de 6 milhões de portugueses.

E as cidades de hoje não estão preparadas para isso. Para acomodar esta enchente de pessoas, terão que enfrentar desafios a nível da habitação, das infraestruturas, dos transportes, do emprego… E ao mesmo tempo, têm que controlar os custos energéticos de todo este ecossistema.

Esta tendência exige uma nova reflexão sobre como serão as cidades de amanhã. Há que torná-las mais smart.

Há cidades que já estão a pensar no futuro e estes são alguns dos exemplos mais “smart” que se vê pelo mundo fora:

Singapura

Um dos maiores centros financeiros do mundo está no topo das cidades mais inteligentes este ano. Desde monitores de ajuda para estacionamento, iluminação exterior e tratamento do lixo, quase todos os aspetos da cidade são monitorizados através de sensores que armazenam quantidades astronómicas de informação. Até existem sensores nas instituições de terceira-idade que alertam os familiares caso os idosos não se movam durante demasiado tempo.

No entanto, a cidade ainda se debate com um assunto incontornável: E a privacidade dos cidadãos? De que forma é que estas informações poderão ser usadas contra eles?

Empenhada em mostrar transparência e proteger os dados dos seus cidadãos, a cidade não vai parar por aqui. Até porque a meta é ambiciosa: Singapura quer ser a primeira “Smart Nation” do mundo.

Barcelona

Tentando contrariar o envelhecimento da sua população, Barcelona está a investir em projetos e infraestruturas que criem novos empregos e convidem mais jovens a instalar-se na cidade.

À semelhança de Portugal, Barcelona beneficia de muitas horas de sol ao longo de todo o ano, o que lhe permite ser uma das cidades mais eficientes em termos energéticos. Já é obrigatório que todos os grandes edifícios produzam a sua própria energia através de painéis solares.

Também tem uma rede de autocarros híbridos, um sistema de tubos conectado aos contentores do lixo que dispensa a sua recolha por parte dos camiões e até o “Bicing” – um sistema de bike sharing com mais de 6000 bicicletas espalhadas pela cidade.  

E não há ninguém em Barcelona que não utilize o smartphone para controlar o trânsito através das dezenas de câmaras instaladas na cidade ou utilizar a app da Câmara de Barcelona para alertar acerca de buracos na estrada ou luzes fundidas.

Londres

O crescimento descontrolado de Londres impôs mudanças urgentes em toda a estrutura da cidade. Desde o sistema de metro antiquado a uma concentração de carros gigantesca no centro, Londres começa agora a ver melhorias através das suas iniciativas “smart”.

A cidade já está a investir num projeto que irá tornar o rio Tâmisa uma das principais fontes de energia renovável de Londres, ao direcionar esta energia para o aquecimento das casas e diminuir os gastos com eletricidade dos cidadãos. Para além disso, também quer instalar painéis solares nos edifícios e controlar toda esta rede elétrica digitalmente para aumentar a sua eficiência.

São Francisco

Não é por acaso que São Francisco está nesta lista. Sendo uma das capitais mundiais da tecnologia, tem-se apoiado em projetos vanguardistas para resolver o problema da aglomeração de pessoas no centro. É uma das cidades com mais iniciativas “verdes” e todos os novos edifícios já são obrigados por lei a ter uma área no telhado para instalar painéis solares.

A rede de transportes da cidade até pode ser antiquada, mas agora já é possível comprar os bilhetes através do smartphone. E apesar de ainda existirem muitas pessoas que se deslocam no seu próprio carro, a cidade tem feito os possíveis para diminuir esta percentagem. Um sistema de Smart Parking – que altera as tarifas de estacionamento em função do número de lugares disponíveis –  também tem contribuído para atenuar o trânsito que se faz sentir no centro.

Oslo

À semelhança de outras cidades do norte da Europa, Oslo tem todas as razões para se gabar da sua qualidade de vida, edifícios modernos, ruas limpas e atitude empreendedora em relação ao futuro.

O consumo sustentável de energia tem sido um dos pilares da sua estratégia e hoje até utilizam o próprio lixo – desde o doméstico até ao industrial – como a sua principal fonte de energia. Têm estado tão focados nisto que, a certo ponto, já nem existia mais lixo na cidade e tiveram de o importar do estrangeiro.

Oslo tem a maior rede de abastecimento de carros elétricos do mundo e, até 2019, planeia banir todos os veículos do centro. Ao mesmo tempo, também se prepara para construir mais 60 km de pistas para bicicletas por toda a cidade.

Até a iluminação é inteligente: os candeeiros de rua ajustam a intensidade da luz em função da luminosidade exterior e condições climatéricas e podem ser controlados por parte da Polícia através de um computador ou smartphone.

Portugal

Não é só lá fora que as cidades estão a ficar mais inteligentes. Em Portugal, já damos os primeiros passos em direção às cidades do futuro.

O estudo “Portuguese Smart Cities Index 2015” concluiu que Lisboa, Porto, Oeiras e Bragança são as cidades mais inteligentes de Portugal. Estas quatro cidades distinguem-se das outras pelas políticas inovadoras e projetos inteligentes.

Vejamos algumas das iniciativas que já estão a ser implementadas:

Lisboa

A capital portuguesa não quer perder o comboio da inovação, mas optou por dar pequenos passos em vez de investir em grandes infraestruturas.

Uma cidade solar, com carros elétricos e um sistema de iluminação pública que controla a meteorologia e a poluição. É assim que o Projeto Sharing Cities vê a cidade de Lisboa daqui a cinco anos. O projeto, que ainda está na fase de arranque, insere-se no Horizonte 2020 e vai ser construído em conjunto com Milão e Londres.

Mas há outros programas inovadores, como o My Neighbourhood. É um projeto-piloto que quer combater a solidão e levar os moradores dos bairros históricos a recuperar a sensação perdida de uma vizinhança, através das tecnologias de informação.

Porto

Já pensou andar nas ruas do Porto, sabendo que alguém está a observar os seus passos? É essa a ideia que surge agora num projeto inovador. Numa das ruas mais tradicionais da cidade – a Rua das Flores – agora há unidades de sensorização ambiental e contadores de pessoas, instalados num simples canteiro de flores. Mas calma, nada do que é dito ou feito é gravado. A iniciativa só quer perceber o que se está a passar naquela rua em termos de ruído e poluição.

Também cerca de 600 autocarros que passam pela cidade já recolhem dados acerca dos seus trajetos, o que permite identificar melhorias a nível da frequência de passagem e localização das paragens.

Juntamente com outras cidades europeias, o Porto também se juntou ao Grow Smarter, um projeto no valor de 25 milhões de euros que quer contribuir para uma Europa mais sustentável e ambientalmente inteligente. O objetivo é melhorar a eficiência energética em áreas residenciais, no tratamento do lixo e aumentar o número de carros elétricos a circular na cidade. Para isso, já estão a ser postas em prática várias iniciativas, como a introdução de sensores de CO2 e estudos estatísticos a nível da recolha do lixo.

Uma cidade “smart” não é só uma cidade tecnológica

É fácil pensar que uma “smart city” é aquela onde reina a tecnologia de ponta e projetos futuristas. Mas é muito mais do que isso. Um dos pilares das cidades do futuro é ouvir os seus cidadãos.

Uma cidade smart não deve ser só mais sustentável, também implica encontrar formas de a tornar mais divertida! Vejam por exemplo o projeto Shadowing em Bristol, que deu uma nova vida aos candeeiros da cidade, permitindo-lhes gravar e reproduzir as sombras de quem lá passava.

Por isso, uma cidade mais inteligente é sinónimo de uma cidade mais feliz, onde todos os cidadãos têm a liberdade para contribuir com ideias e trabalhar em conjunto para desenvolver soluções que beneficiem a cidade.

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Ciber-segurança: nem a Saúde está a salvo

  • Ransomware

No ano passado, popularizaram-se os ataques onde os hackers impedem o acesso às bases de dados das empresas até ser pago um resgate através de uma moeda virtual, como o bitcoin. O sucesso que estes ataques tiveram em 2016 promete claramente que continuem a crescer este ano.

  • Venda de informação

O tráfico de dados vai aumentar através da comercialização de informação em fóruns de hackers a fim de melhorarem os seus ataques e obterem mais dados de alvos específicos.

  • Internet of Things

Ter todos os aparelhos ligados à Internet pode trazer muitas vantagens, mas também cria mais janelas abertas para alguém infiltrar-se na rede e roubar os nossos dados.

  • Terceiros (vendedores, parceiros, etc)

Todos os negócios e transacções através de terceiros representam um grande risco para as empresas. É que mesmo que esta invista fortemente na sua segurança, se algum dos seus parceiros for alvo de um ataque informático, as consequências poderão ser devastadoras para todos os envolvidos.

No entanto, há uma área que nos preocupa particularmente por estar vulnerável a todas estas ameaças. Há pouco tempo, todos pensávamos que os hospitais estariam a salvo de intenções maliciosas porque ninguém iria querer prejudicar os doentes. A verdade é que a área da saúde é o novo alvo dos hackers para 2017, afirma a Experian.

Mas porquê os hospitais?

  • Os seus dados são mais valiosos

Quando pensamos em grandes investimentos na área da segurança informática, pensamos imediatamente na indústria financeira ou tecnológica. É certo que estas empresas lidam com dados confidenciais, mas estes rapidamente se tornam inúteis, assim que a falha informática é descoberta e todos os códigos e passwords são alterados. Mas com informação médica, não podemos simplesmente “mudar a password” – os dados ficam comprometidos para sempre.

Pensem na quantidade de dados importantes que os hospitais guardam e como tudo gira em torno dessa mesma informação: sem eles, os hospitais não podem marcar consultas ou fazer procedimentos médicos. Para não falar dos processos judiciais que podem enfrentar quando os doentes descobrirem que as suas moradas, números de segurança social e historiais médicos foram roubados.

É por isso que o ransomware é para os hackers uma forma muito fácil de fazer dinheiro nesta área. É que quando há vidas em jogo, as pessoas agem rapidamente: a maioria dos hospitais decide pagar o resgate mais facilmente que outras empresas.

  • São “novatos” na cibersegurança

Há agora uma grande pressão sobre os hospitais para adoptar métodos de armazenamento mais modernos. Mas os hospitais ainda se estão a adaptar à digitalização dos seus dados e não tem havido um claro investimento na segurança destes dados. No ano passado, um grupo de hackers entrou nos servidores dos hospitais Banner Health, e conseguiu extrair dados pessoais, bancários e clínicos de 3.7 milhões de pessoas que estavam associadas ao hospital. Mas não é preciso ser um verdadeiro “cibercriminoso” para conseguir penetrar o sistema e essa é a parte assustadora. É incrivelmente fácil aceder aos dados de muitos equipamentos médicos já que muitos deles estão ligados a redes públicas.

  • Têm muita informação e não sabem como a controlar

Cada vez se tenta criar um sistema de saúde mais integrado e simples de aceder, o que quer dizer que os nossos dados são partilhados com cada vez mais entidades e fornecedores de equipamento médico. Para além disso, há cada vez mais máquinas ligadas à rede do hospital, o que deixa os nossos dados mais vulneráveis. Mas isso não é o pior: imaginem que esses equipamentos estão ligados ao paciente? Teoricamente, um hacker poderia alterar dosagens de medicamentos ou até desligar a máquina se assim o entendesse.

Então como é que não existe mais segurança?

Há dois grupos de pessoas que devem olhar para esta questão com atenção:

  • Os fornecedores de equipamentos de médicos

– que têm de testar e procurar vulnerabilidades nas máquinas antes de as venderem – hoje em dia ainda não existe muito controlo neste sentido.

  • A direção dos hospitais

– que deve assegurar que todos os seus equipamentos críticos estão ligados a uma rede segura e criar um conjunto de medidas e diretrizes de segurança que devem ser seguidas por todo os colaboradores. Para além disso, fazer backups dos seus dados é crucial para que os hackers deixem de ter tanto poder no momento em que pedem um resgate pela informação roubada.

Os hackers de hoje e os seus métodos são mais sofisticados do que pensamos. A pergunta já não é se – ou sequer quando – irá acontecer, mas sim se alguma vez iremos descobrir que os nossos dados foram roubados.

Os ataques informáticos na área da saúde vão continuar até a indústria ser capaz de assumir o controlo da enorme quantidade de informação que tem em mãos. Até lá, ninguém está a salvo.

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Certificados Digitais – Os perigos ocultos do mundo web

Já todos ouvimos notícias sobre a quebra de segurança da Yahoo, que espalhou informações pessoais de 1 bilião de utilizadores. Ou da cadeia de lojas Target, que colocou os dados dos cartões de crédito de milhões de pessoas nas mãos de ciber-criminosos.

Mas em 2011 ocorreu um ataque informático que muitos nunca ouviram falar. No entanto, foi tão importante que pôs em causa a forma como toda a infraestrutura da Internet funciona.

Tudo começou com um utilizador no Irão que não conseguiu fazer login na sua conta do Gmail. Este manifestou o problema no fórum de ajuda e, para sua surpresa, a Google fez rapidamente um comunicado de imprensa acerca da situação, colocando a culpa do problema numa empresa holandesa chamada DigiNotar. O governo holandês tomou imediatamente controlo da empresa e, pouco tempo depois, a DigiNotar faliu.

Mas como é que uma empresa da qual nunca ouvimos falar pode ser responsável por uma falha técnica da Google?

A DigiNotar é aquilo a que chamamos uma Autoridade de Certificação – ou CA (do inglês Certificate Authority). Isto significa que ela emite certificados virtuais para websites e softwares, garantindo que são seguros para navegar e fazer download. É nestas empresas que os browsers se apoiam para assegurar que a página que estamos a tentar abrir não é apenas um malware a tentar roubar os nossos dados de login, por exemplo.

Existem centenas de CAs, mas há algumas  – como a DigiNotar – em quem os browsers confiam automaticamente, por terem uma boa reputação no mercado. Estas CAs de “elite” têm autoridade para recomendar outras CAs intermediárias que, por sua vez, podem emitir certificados para qualquer website à sua escolha. A falta de transparência e controlo deste ecossistema tem, portanto, tudo para correr mal.

Para um hacker, as CAs são especialmente tentadoras: assumir o controlo da sua rede pode permitir a difusão de centenas de ameaças virtuais, como infetar computadores com malware e phishing. Por isso, para empresas como a DigiNotar, a segurança não só é importante, como é a própria razão para a sua existência.

A DigiNotar era uma das CAs de confiança do Google Chrome. E o escândalo ocorreu quando os hackers conseguiram entrar na rede da DigiNotar e começaram a emitir certificados digitais falsos. O website que o tal utilizador no Irão tentava aceder era apenas uma página falsa para a qual tinha sido redirecionado, desenhada para parecer exatamente igual ao Gmail. Porquê? Provavelmente para o governo do Irão – que já é conhecido por interferir com a atividade online – espiar a atividade de alguns cidadãos.

O que realmente salvou a Google foi o seu próprio browser – o Google Chrome. O browser não aceitava certificados desconhecidos para os seus próprios domínios, por isso, quando o utilizador iraniano tentou aceder a uma página falsa, a Google soube imediatamente que algo estava errado.

O caso DigiNotar foi um verdadeiro abrir de olhos para a indústria. A Certificate Authority Security Council já definiu novas medidas de segurança que estas empresas têm de cumprir para assegurar a proteção dos dados de todos os utilizadores.

Mas mudar todo este ecossistema não é particularmente fácil: As CAs lucram ao vender certificados e, por isso, querem vender o máximo possível. Por outro lado, os browsers competem entre si, e não querem estar constantemente a impedir os utilizadores de visitar websites que não são certificados.

A “febre” da rapidez e inovação na nossa sociedade está a conduzir as empresas em direção a novas formas de trabalhar e sistematizar a informação. Rápidos avanços na tecnologia e a constante pressão sobre as empresas para criar aplicações e serviços inovadores faz com que tenhamos de gerar cada vez mais certificados digitais e chaves encriptadas. Muitas empresas têm dificuldade em gerir tudo isto, já que algumas nem fazem ideia da quantidade de certificados que possuem para os seus domínios. E já percebemos que nem empresas como a Google estão livres deste caos.

Os certificados digitais são o pilar da segurança e privacidade na Internet. Colocar em perigo esta defesa é abrir uma porta para atacantes, que facilmente vão aproveitar estas fendas para esconder ameaças potencialmente desastrosas.

Por isso, da próxima vez que o seu browser lhe indicar que o website a que está a tentar aceder não tem um certificado SSL válido, pense duas vezes antes de prosseguir.